Eu não sei quem tu és, tu também não sabes quem eu sou, mas só preciso de um minuto da tua atenção.
Respira fundo, não estás sozinha.
Deixa-me dizer-te que também já estive aí onde estás, as dúvidas, os medos, as angústias, foram as mesmas que me acompanharam durante anos. A má notícia é que isso nunca vai te vai passar, a boa é que podes ser mais forte que isso.
Eu sei que estás farta dos conselhos da mãe, da sogra, da tia, da vizinha, farta de dar ouvidos a quem não te consegue olhar por dentro, a quem não te alcança a alma de mulher ferida e de mãe frágil. Afinal todas elas criaram bem os seus filhos; são todos (im)perfeitos.
Quantas vezes te apeteceu gritar e expulsar essas vozes da tua vida? Da tua casa?
Quantas vezes sorriste cordialmente para não magoar a opinião alheia?
Quantas vezes te sentiste diminuída e sufocada?
Quantas vezes te fizeram sentir incapaz, como se fosses um perigo para o teu filho?
Eu tenho outra boa notícia para ti, podes livrar-te disso.
Não te vou dizer que vai ser fácil, que não haverão dias em que te irás questionar se foi a decisão certa, se não era preferível ter aquela gente toda na tua vida a opinar, ao invés de ficares sozinha por tua conta e risco e sentires-te abandonada.
Não te vou dizer que não haverão dias em que desejarás não ter nascido mulher e teres dúvidas de se ser mãe foi a tua melhor escolha na vida. Serão inúmeros.
Não te vou dizer que a tua luta contra uma sociedade cruel e seletiva não será inglória e desgastante, será bem mais dura do que aquilo que alguma vez possas imaginar.
Mas posso-te assegurar que para além dos obstáculos, existirá uma coisa da qual te poderás sempre orgulhar: ser livre.
Ahhh... Não existe nada mais reconfortante do que a liberdade, a liberdade de escolheres a mãe que queres ser, a liberdade de escolheres a mulher que queres conquistar.
A tua mãe diz que és má mãe se abdicares de momentos com os teus filhos em prol de uma carreira ou de umas férias sozinha com o teu marido/namorado ou de uma saída para a discoteca com as tuas amigas; a tua sogra dirá que é muito melhor mãe e que educaria melhor o teu filho do que tu, mesmo ela não tendo sido capaz de fazer grande coisa pelo teu marido; a tua vizinha comenta que és uma má mãe porque te ouve gritar com os teus filhos quando perdes a paciência e dizes que os vais embalar numa caixa e manda-los para a Bolívia só com bilhete de ida, a tua tia e as tuas primas dizem que és uma vergonha porque preferes investir em ti, na tua carreira e nos teus estudos por mero capricho, que o melhor que fazias era ir trabalhar das 8h às 19h como qualquer boa mãe sacrificada faz.
O teu pai diz que não és capaz de ser independente e que ser mãe solteira com filhos neste mundo é muito difícil, que o melhor que tens a fazer é engolir três ou quatro (ou milhares) sapos e manteres o casamento que felicidade nenhuma te traz para que nunca te falte nada, a ti e aos teus filhos.
E tu? Que mulher habita aí dentro? Que mãe queres tu ser? Que exemplo queres dar aos teus filhos, o da mãe e mulher submissa e conformada, ou da mãe e mulher independente que tem em si todos os sonhos do mundo?
Não me digas que é complicado, que irias perder muito, que irias causar discórdias e conflitos, que irias magoar os teus filhos e romper laços dos quais precisas ter para não perderes a noção de pertença. Isso são desculpas, desculpas que te roubam a oportunidade de seres, realmente, quem sempre quiseste ser.
Eu sei que é difícil. É. Muito. Não te vou mentir.
Tirar-te-á muitas noites de sono, trará muita revolta, irás questionar imensas vezes se terá sido a melhor opção, irás chorar muito pelo silêncio que fará ruído em ti, sentirás abandono, terás medos terríveis, sentirás que na verdade tu nunca importaste, duvidarás dos outros e até de se serás capaz sozinha, durante muito tempo andarás como se te faltasse um membro.
Mas nada dura para sempre, e a única coisa que te posso garantir é que é libertador.
É libertador dependeres só de ti, dependeres da tua vontade, dares voz ao teu querer. É libertador poderes pensar e decidir por ti, sem interferências, poderes escolher e assumir as consequências dessas escolhas. Mais do que isso, veres nos teus filhos a confirmação de que és muito mais e melhor do que aquilo que alguma vez te possam ter dito.
Seres mãe não significa que tenhas que perder a identidade, que tenhas que guardar os teus sonhos no bolso, não significa que tenhas de te colocar em último lugar em tudo. Às vezes colocares-te em primeiro lugar é colocares também os teus filhos no mesmo sítio, porque a felicidade dos teus filhos é proporcional à tua, e o facto de às vezes não estares presente não significa que não estejas do lado deles, muito pelo contrário, a tua ausência para viveres os teus sonhos também é uma forma de ama-los porque com isso mostras-lhes que devem respeitar-se e lutar pelos seus sonhos.
Anulares-te é o teu maior erro e nunca fará de ti melhor mãe, muito pelo contrário, fará de ti uma mulher frustrada e em piloto automático, além de que irás cometer o segundo pior erro da tua vida que é colocar, inconscientemente, o peso da expectativa em cima dos teus filhos em que eles terão que recompensar-te no futuro pela decisão de teres abdicado da tua vida por eles.
Mantém-te firme e confia, em ti e na vida. Há pessoas boas que Deus nos vai colocando no caminho, e o fardo vai sendo mais suportável, mais leve.
Digam o que disserem os outros, eles não te conhecem, eles não sabem quem tu és e nunca se preocuparão em conhecer. Eles não te vêem por dentro, só vêem aquilo que querem. E isso não é uma escolha tua, é uma escolha deles.
Digam o que disserem, é a opinião deles, e com a opinião dos outros, podes tu bem.
Faz da tua vida um orgulho e um exemplo para os teus filhos, mas sobretudo, sê, genuinamente, feliz.
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