domingo, 12 de junho de 2016

|| Como vai a vida, a saúde, e o resto

Olá de novos amores!
Cá estou de novo para conversar um bocadinho convosco e por-vos ao corrente do que tem acontecido na minha vida que me leva a grandes ausências, uma espécie de vai-vem, aqui no blog.
Então vamos por partes. Há pessoas novas aqui com certeza que não sabem do meu problema, mas para quem não sabe, foi-me detetado em fevereiro deste ano, na antevéspera do meu aniversário, um tumor no ouvido direito com o nome pomposo de colesteatoma. Este tumor não pode ser chamado de cancro só pelo simples facto de não se espalhar para o resto do corpo e criar metástases, mas o comportamento destrutivo e as consequências são tão nefastas e graves como um cancro.
Os sintomas começaram quando ainda estava grávida do Mateus, aos 5 meses. Consultei o melhor dos melhores otorrinos, o Dr. Carlos Ruah que me tentou tratar o problema com tudo o que pôde, o problema é que nada fazia efeito e o ouvido estava sempre cheio de líquido e ele não conseguia ver para lá disso. Até que me mandou fazer uma TAC porque ele próprio já suspeitava do que era e o resultado lá estava, colesteatoma avançado já com grande erosão dos ossículos, inclusive aquele que separa o ouvido do cérebro e aí entramos na parte da meninge, que protege o cérebro. A única solução: cirurgia.
Ora, como eu não tenho possibilidades financeiras tive que fazer todo o processo normal de ir à médica de família mostrar a TAC, pedir pra ser encaminhada para o otorrino do hospital da minha área de residência, essas coisas. Ela como viu que a coisa era urgente não demorou 1 mês até o hospital me chamar para a consulta.
O médico que me atendeu e que, posteriormente, me irá seguir o resto da vida porque esta doença assim o obriga com o risco de voltar a surgir, foi super acessível, explicou-me tudo direitinho e marcou a cirurgia. Como ele é o responsável pela lista de cirurgias do serviço de otorrino, avisou-me para estar a contar que num caso como o meu não iria demorar um mês para ser chamada para cirurgia. Entretanto, mandou-me fazer uma medicação, gotas no ouvido e no nariz, até ao dia da cirurgia para ir mantendo as coisas estabilizadas porque ele avisou-me que uma otite ou uma infeção em cima disto tudo iria ser muito mau.
Entretanto ele falou comigo há 2 semanas e disse-me que a cirurgia esteve marcada para dia 6 deste mês mas como apareceu um doente oncológico teve de passar à frente, e disse-me a data definitiva que marcou para a minha cirurgia.
Serei operada daqui a uns dias, não vou dizer o dia porque, assim como há muita gente que vem aqui e me quer bem, também há meia dúzia que vem e está doidinha para me ver enterrada até ao pescoço, e uma ou duas a desejar que esteja enterrada, literalmente. "Eia Márcia, estás a exagerar!", não estou meus amores, e nestes últimos dias em que tenho andado mais em pânico, meia perdida, incapaz de tomar sequer conta dos meus filhos quanto mais de mim, a precisar de todos os cuidados e mais alguns, físicos e emocionais, porque entretanto as vertigens, dores de cabeça e tonturas têm-se agravado, tenho visto realmente quem é quem.
Falo-vos não só de amigos, que esses nunca os tive, fui tendo colegas de vida, daqueles que vêm e vão, mas, principalmente, de família. Tenho percebido, com alguns desabafos que tenho feito no meu facebook pessoal acerca da minha falta de paciência, de fé e tudo o mais, que as primeiras a virem dar machadada são pessoas da minha família, pessoas que, supostamente, me conhecem e que, à partida, se lessem bem as entrelinhas iriam vislumbrar um profundo desespero, uma enorme angústia e um pânico tremendo que vive dentro de mim.
"Ai mas vai correr tudo bem!", é tudo o que me sabem dizer. Eu sei que a intenção é boa, que não se deve pensar no pior porque o mau atrai o mau, mas a verdade é que sou eu que me vou deitar numa marquesa, de livre e espontânea vontade, porque não tenho alternativa, ou isso ou morro a curto prazo, mas excesso de positivismo não me chega, não me basta, não me acalma. Da forma que o tumor está, a crescer para cima, se rebentar e entrar no cérebro posso ter uma encefalite ou meningite, ou se for para a veia principal do pescoço - que agora não me lembro o nome - pode formar um coágulo de tal forma que tenho um avc.
Mesmo a cirurgia tem os seus riscos, porque nem a TAC foi totalmente esclarecedora de como isto está por dentro, portanto, os médicos vão abrir isto às cegas sem saberem bem o que vão encontrar. Vai ser uma cirurgia meticulosa para que a meninge não sangre porque se ela sangrar muito corro o mesmo risco de apanhar uma meningite ou encefalite à mesma, ainda assim, o Dr. Bernardo acredita que entre o operar com riscos e não operar, é preferível operar.
Obviamente que saber isto tudo, para quem foi sempre saudável e nunca fez uma cirurgia com anestesia geral, é assustador. Acrescentando ao facto de ter dois filhos para criar, tudo toma proporções ainda mais assustadoras.
Por muito que eu tente ser positiva, é difícil lidar com tanta emoção ao mesmo tempo e ainda ser capaz de fazer uma vida normal. Por isso é que chamei a minha mãe para ficar comigo um tempo e me ajudar a cuidar da casa e dos miúdos, visto que sozinha não sou capaz. E a culpa que isto me causa? O não estar capaz, não ser o suficiente para cuidar dos meus filhos, de não estar disponível para eles? Vocês não imaginam.
É certo que as mães têm muito a mania de acumularem culpas em relação aos filhos, e eu sei que este caso está totalmente fora do meu controlo porque não fui eu que causei esta doença, nem a desejei tão pouco, portanto, o facto de me sentir incapaz, perdida, assustada, é perfeitamente normal porque a verdade é esta: ninguém sabe o que vai acontecer naquele dia naquela sala de cirurgia, só Deus. E neste momento não consigo confiar Nele, a minha fé está abalada, por muito que eu me obrigue a mante-la no coração, mas a revolta de tudo isto estar a acontecer comigo, 1 ano e meio depois de ter passado um inferno que ninguém calcula e que no meio dele tive que decidir se avançava com uma gravidez ou não, sinto-me injustiçada.
Costuma-se dizer que Deus não nos dá uma carga mais pesada do que aquela que somos capazes de aguentar, mas eu já estou a começar a definhar. São muitas provas, muitos desgostos seguidos, nem dá para eu assentar e respirar um pouco. Não tenho tido tréguas.
A fé nestas alturas é a única bengala que nos vale, mas a minha está trémula e já a atirei algumas vezes para o chão.
Portanto, têm sido dias confusos, ora estou bem e a sorrir e a fazer piadas, ora estou sentada no chão com as mãos na cabeça a chorar que nem uma criança. Para controlar, ou tentar amenizar, estes picos emocionais tenho tido o apoio incondicional da minha psicóloga que tem sido impecável comigo. Se não fosse ela... eu tenho a certeza absoluta que teria jogado a toalha ao chão e mandar foder tudo, até a vida.
Olhar para os meus filhos e passar-me pela cabeça que tudo pode acabar daqui a dias, que eles podem ficar sem mim, isso mata-me mais depressa do que uma possível cirurgia dar para o torto.
O que me vale para me abstrair são as piadas típicas do meu filho de 6 anos, das suas curiosidades, dos seus abraços, das palhaçadas típicas de um bebé de 9 meses, do sorriso com meia dúzia de dentes, são essas pequenas coisas que me vão alimentando a pouca fé que me resta e que me vão dando a esperança de que ainda vamos ser muito felizes.
Acredito que nada acontece por acaso, talvez seja Deus a dizer-me alguma coisa que ainda não tenha querido ouvir - se calhar é por isso que o problema é mesmo no ouvido - ou se calhar é a vida a dar-me mais uma luta para vencer, sei lá.
Só quero que este pesadelo acabe.
De uma coisa eu tenho absoluta certeza, (se) quando acordar daquela cirurgia eu não vou voltar a ser a mesma, mesmo agora antes de ela se concretizar, sinto que não sou mais a mesma, sinto que isto tudo me tem feito crescer à velocidade da luz, tenho aprendido a ser seletiva e restritiva com as pessoas, com os problemas, com as situações, tenho aprendido que as pessoas só ficam a troco de alguma coisa e que vale mais assumir uma solidão consentida do que uma solidão enganosa, tenho aprendido que não posso estar sempre e esquecer-me de mim para estar lá quando os outros precisam, que é preciso equilibrar as coisas, que ninguém é digno de ser salvo por ninguém sem o querer muito e também fazer por isso.
Já estou cansada de ser o salva vidas de toda a gente, agora que preciso de um, olho para os lados e ouço silêncios, sem oportunidade para cantar o meu fado.
Resta-me ir fazendo o que posso para tentar manter a calma até ao dia, vou estando por aqui, não tanto quanto gostaria.
Às vezes apetece-me vir aqui escrever silêncios mas eles não se lêem, só se escutam e são raras as pessoas que os conseguem ouvir. Não levo a mal, a vida corre, muitas vezes ensurdecendo-nos perante os outros...
Portanto, o blog está e vai continuar a passar por uma fase mais silenciosa, mais vai e vem, mas vocês entendem o porquê. Não me esqueço, nunca esquecerei jamais, deste espaço, desta família que criei aqui convosco.
E espero que assim seja durante muito tempo, não me apetece nada deixar-vos a envelhecer sozinhas.

Beijinho amores e um bom fim de semana








10 comentários:

  1. querida Márcia, ás vezes o positivismo faz a diferença ...mas acredito que saberes o quanto gostamos de ti ainda faça mais...e tu sabes que tens aqui pessoas que gostam E MUITO de ti. Conseguiste conquistar cada uma de nós...por ti, pela pessoa que és...e agora não te livras de nós:) Por isso toca a envelhcer aqui com a gente :) Não se sabe o dia de amanhã, ninguém sabe, por isso aqui te espero Márcia...
    não saber o dia deixa-me um pouco desamparada, mas compreendo o porquê de não o quereres dizer...
    Gosto muito MUITO de ti...
    Um grande beijinho
    elisaumarapariganormal.blogspot.pt

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  2. Compreendo a tua angustia e ansiedade! Mas os médicos saberão o que fazer e tenho a certeza de que a cirurgia correrá lindamente! Muita força!
    beijinhos
    https://direitoporlinhastortas-id.blogspot.pt/

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  3. Marcia,sei que é difícil a sua situação, mas não desespere e tente ser sempre positiva. A cirugia vai corre bem. Infelizmente a vida nos ensina por vezes da pior maneira a ver quem realmente são os nossos amigos, espero poder envelhecer consigo, porque vou começar a seguir o seu blog. MUITA FORÇA E CORAGEM. Beijinhos
    http://www.comeragosto.com/

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  4. Bom saber de si, querida. Andar nervosa, e ter medo, é absolutamente normal e humano. Estranho seria o contrário. Pensar positivo, é bom de dizer, mas difícil de concretizar para quem está na sua posição. Fiz uma cirurgia complicada três meses antes da neta nascer, e lembro-me de dizer a chorar ao cirurgião, que a maior mágoa que tinha era de não conhecer a neta. Por isso sei que por muito que nos incentivem, nunca reagimos como as pessoas querem. Acredito que tudo vai correr bem, e rezo para que Deus guie a mão que a livrará do maldito e a trará de novo à vida.
    Gosto muito de si. E acredito, em Deus, na medicina e nos médicos.
    Deixo um carinhoso abraço

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  5. Vai correr bem vais ver...

    medos todos temos, e compreender os riscos faz-nos ter consciência da nossa humanidade, adorei o texto e desejo te tudo de bom, comecei a seguir e espero o post a dizer fui operada, estou em casa em recuperação e sinto-me extraordinariamente bem!

    beijinho e muita força

    sramliberdadenegra.com

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  6. Espero que corra tudo bem. Eu sou ateia e por isso não te consigo dizer para teres fé, mas peço-te para acreditares na medicina e no cirurgião que te vai operar. Estou aqui à espera de ler boas notícias.

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  7. Oh minha querida Márcia, como te entendo, já passei por um susto no ano antes de engravidar e, até acho que foi por isso que decidi que estava na hora, porque nunca sabemos o dia de amanhã, nem sequer o logo, e portanto há que aproveitar.
    Gosto de ti, genuinamente e, adorava estar pertinho de algumas de vocês para podermos ser amigas de verdade, daquelas que vão tomar café, jantar e falar horas seguidas, gostava mesmo, pois sinto que conheço melhores pessoas virtualmente do que as que conheço pessoalmente.
    Não sei o dia que vai acontecer a tal cirurgia mas com certeza vai correr bem, pensamento positivo Márcia, é mais uma luta que vais vencer e cá estarei à tua espera para envelhecermos juntas ;).
    Beijinho grande e boa sorte.

    misscokette.blogspot.pt

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  8. Hey, pensamentos positivos atraem coisas positivas! Daqui a nada vais estar aqui a 100% a contar que tudo correu bem e, depois, com histórias dos filhos e outras coisas boas, vais ver :)
    Boa sorte e muita calma!

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  9. Princesa, irá tudo correr pelo melhor! Não te esqueças que quem não te quer bem não merece que gastes energias nelas! Carrega as tuas boas energias e canaliza-as para ti! É fácil falar para quem está de fora, mas és tu e só tu que importa!

    As melhores e tudo correrá bem!

    Beijinhos,
    Joana*

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  10. Márcia, às vezes tudo o que nos resta é confiar. Neste caso, confiar nas mãos dos cirurgiões e que tudo vai acabar em bem. Em bem não, em melhor ainda, porque hás-de conseguir dar essa volta à tua vida e deixar de ser a tal salva vidas para seres tudo o que desejares.
    Boa sorte. Aqui te espero :)
    Beijinho!

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