Desde que me foi diagnosticado um colesteatoma (um tumor para quem não sabe) no ouvido direito em Fevereiro deste ano, o meu corpo e a minha mente, de repente, começaram a entrar em conflito. Comecei a adoecer constantemente, estados gripais súbitos mesmo passando a maior parte do tempo em casa sem apanhar frio, estados esses que me deixavam completamente K.O. e de cama, sem qualquer energia para enfrentar os meus dias, houve dias até que fiquei incapacitada para cuidar do meu filho de meses. Confesso que comecei a entrar em desespero, era muita coisa misturada, era o não saber lidar com a doença, o não aceita-la, o medo acerca do que me espera, e a somar a tudo isto estava a ter conflitos sérios sobre a presença de algumas pessoas que eu sempre soube que eram tóxicas para mim mas a minha mania de querer salvar os outros, custe o que custar, não me estava a deixar desapegar. Depois que me decidi a deixa-las ir embora, automaticamente sobrou espaço e tempo para pensar sobre a minha doença, e é sobre isso mesmo que vos venho falar.
Na 3f finalmente fui à consulta com o otorrino do Hospital, e, surpresa das surpresas, calhou-me um médico super simpático, super acessível que me explicou tudo ao pormenor, pôs-me à vontade, confortou-me. O diagnóstico dele foi exatamente igual ao do Dr. Carlos Ruah, ou seja, no meu caso, e no estado em que isto já está, não há outra solução se não operar.
Até aqui tudo bem, o que me deixou estupefacta foi a gravidade que ele expôs do problema, porque até ali eu só tinha noção de que tinha um problema sério no ouvido que poderia trazer consequências nefastas, mas só com a explicação dele é que realmente me caiu a ficha, foi ali naquele consultório minúsculo, que aceitei a minha doença e a encarei como tal.
O médico explicou-me que a única diferença disto para um cancro é que não se espalha para o resto do corpo, não cria metástases, mas o comportamento dele é semelhante a um. O tumor que tenho vai inchando, naturalmente, invadindo tecidos e corroendo os ossos. No meu caso, isto já está aqui há anos como consequência das múltiplas otites que tive em miúda, quer isto dizer que já estão muitos ossos "comidos". Ele explicou-me que é urgente fazer cirurgia para tirar o tumor e limpar o ouvido todo por dentro, porque se não o fizer um dia destes algo de muito mau - e fatal - acontece, se a infeção descer para o pescoço posso ter um avc ou se subir para o cérebro posso ter uma encefalite ou meningite, em qualquer um dos casos pode ser fatal.
Também me explicou que depois da cirurgia é normal que fique a ouvir muito pior porque neste momento o que faz a condução do som é o próprio tumor, quando ele deixar de existir é como se tudo ficasse em suspenso, e por isso, ele sugeriu que passados 6 meses volte a fazer cirurgia para fazer a reconstrução óssea para que volte a ouvir.
Mas o que ele me disse é que serei sempre uma paciente numa espécie de remissão, terei que ser acompanhada para o resto da vida sob o risco de o tumor voltar a aparecer.
Caramba... foi muita coisa para assimilar num só dia, e quando vim para casa comecei logo a sentir o meu corpo a querer definhar, fui-me deitar, dormi quase o resto do dia, como se já não dormisse há semanas. Ontem e hoje foram dias para pensar sobre tudo isto, fazer associações com base naquilo em que conheço e acredito.
Tendo eu um lado muito reikiano, que acredita que certas partes do corpo estão ligadas a chacras, que o corpo e a alma são distintos mas inseparáveis, o que acontece numa parte a outra sente, fico a pensar no que originou este tumor.
Cientificamente ele é resultado de várias otites, mas espiritualmente tenho pensado que ele é o resultado de anos e anos de "surdez" interior, o resultado de nunca me ter dado ouvidos, de sempre ter "tapado" a audição e só dar ouvidos àquilo que os outros diziam, ao veneno que me cuspiam e que me foi envenenando não só a mente como também todos os canais por onde o som passa. Ouvi de tudo, acreditem, coisas que ainda hoje ecoam nos meus ouvidos.
O facto de só há 2 anos para cá ter silenciado a boca dos outros e dar voz à minha intuição, a ouvir-me com muita atenção, a escutar-me até ao mais ínfimo dos meus silêncios, de repente, surgem os sintomas do colesteatoma. Coincidência? Não acredito.
Depois, o curioso no meio disto tudo, é que o facto de me ter começado a dar ouvidos o meu corpo deixou de ser super resistente, é como se, de repente, ele tivesse sucumbido ao cansaço por o ter obrigado a ser resistente durante tantos anos. Sempre fui a típica miúda/mulher que aguentou tudo, que comeu e calou sempre, que engoliu sapos gigantes sem ter a obrigação de o fazer, e de repente libertei-me de toda a merda que me sufocava, incluindo pessoas, e o meu corpo começou a dar mostras de um grande sofrimento, o equivalente ao da alma. É como se eu fosse um terceiro interveniente entre o meu corpo e a minha mente a tentar, a todo o custo, que eles não se sintonizassem.
Hoje, cada vez mais, tenho um corpo em sintonia com a mente, razão disso é que quando estou stressada, muito ansiosa, ou com uma dor emocional profunda por me lembrar de alguma coisa, fico doente, o corpo sucumbe e defende-se como pode.
Começo a acreditar que a doença também cura. Porque é a doença que nos obriga a parar, que nos obriga a olhar para dentro, a refletir sobre as coisas que realmente importam e aquilo que é tão ridículo valorizar que nem faz sentido existir.
Começo a sentir uma espécie de serenidade, sinto-me muitas vezes a ser transportada para um estado profundo de introspeção. A pressa que sempre tive de viver, de repente, acalmou, é como se agora escutasse com mais atenção a vida que corre em cada célula, o respirar deixou de ser uma coisa mecânica e passou a ser uma dádiva.
Para alguém que disse muitas vezes "a vida não tem sentido", hoje começo a compreender o sentido da vida, em coisas tão simples mas tão cheias de tudo aquilo que um ser humano precisa: amor.
Dizer que não tenho medo seria mentir. O próprio médico disse que existem riscos durante a cirurgia mas, segundo ele, o risco de operar é muito menor do que o risco de não o fazer porque aí as consequências acontecem de certeza. Mas até o medo me tem inspirado, porque é sempre o medo que nos inspira a melhor viver, a valorizar.
Aconteça o que acontecer daqui para a frente, de uma coisa eu tenho a certeza, nunca mais serei a mesma, porque depois de se sentir o valor da vida já não dá para voltar atrás e valorizar o que é mesquinho e sem sentido, já não dá para voltar a carregar o mundo às costas porque a doença já me libertou das amarras da ausência da liberdade.
Aconteça o que acontecer, a vida já ganhou todo o valor que nunca lhe dei, basta-me vê-la escorregar por entre os dedos.
A doença também cura, eis a maior lição que levo da vida.
Vai correr tudo bem, vais ver :)
ResponderEliminarFiquei tão emocionada que nem tenho palavras.
ResponderEliminarContinuarei a rezar por si.
Abraço
Muito interessante o teu post. Espero que corra tudo pelo melhor e concordo a 200% contigo. "A doença também cura..." Sem dúvida!
ResponderEliminarE por favor, claro que chegarás a Agosto! Então agora que vem o bom tempo para onde é que queres ir? Deixa-te ficar ;)
Beijinhos e muita força*
Vai tudo correr bem, vais ver,....força,...
ResponderEliminarBeijinhos,
Espero por ti em:
strawberrycandymoreira.blogspot.pt
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Querida não consigo imaginar o quão difícil deve ser para ti passar por tudo isso, pois nunca estive na mesma posição. No entanto é tempo de rodear-se das pessoas que mais te fazem bem e esquecer as tóxicas (fico feliz que já tenhas conseguido livrar-se dessas). Escolha lutar pela sua vida. Estarei aqui a torcer por ti.
ResponderEliminarBeijinho grande no coração
http://themarielement.blogspot.pt/
Achei muito interessante a tua interpretação reikiana da coisa. Tem calma e acredita que tudo vai correr bem!
ResponderEliminarTalvez a operação te permita voltar a ouvir de uma forma saudável, com o corpo e com a mente :)
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Estive "fora" quase um mês e já estava a morrer de saudades tuas e de aqui vir! E começo logo com esta notícia! Mas sabes Márcia tenho a certeza que tudo irá correr bem
ResponderEliminar...tu és uma mulher de armas...não é "isto" que te irá abalar ! E já sabes, estamos aqui contigo! Gosto mesmo muito de ti!
A continuares assim, vais vencer sem dúvida!!
ResponderEliminarEu sou surda de um ouvido desde sempre e nunca encontraram nenhuma razão aparente para tal. Tenho muito cuidado com os meus ouvidos (embora sei que às vezes faço umas asneiras).
As melhoras :D
Cátia ∫ Meraki ∫