Olá de novos amores!
Cá estou de novo para conversar um bocadinho convosco e por-vos ao corrente do que tem acontecido na minha vida que me leva a grandes ausências, uma espécie de vai-vem, aqui no blog.
Então vamos por partes. Há pessoas novas aqui com certeza que não sabem do meu problema, mas para quem não sabe, foi-me detetado em fevereiro deste ano, na antevéspera do meu aniversário, um tumor no ouvido direito com o nome pomposo de colesteatoma. Este tumor não pode ser chamado de cancro só pelo simples facto de não se espalhar para o resto do corpo e criar metástases, mas o comportamento destrutivo e as consequências são tão nefastas e graves como um cancro.
Os sintomas começaram quando ainda estava grávida do Mateus, aos 5 meses. Consultei o melhor dos melhores otorrinos, o Dr. Carlos Ruah que me tentou tratar o problema com tudo o que pôde, o problema é que nada fazia efeito e o ouvido estava sempre cheio de líquido e ele não conseguia ver para lá disso. Até que me mandou fazer uma TAC porque ele próprio já suspeitava do que era e o resultado lá estava, colesteatoma avançado já com grande erosão dos ossículos, inclusive aquele que separa o ouvido do cérebro e aí entramos na parte da meninge, que protege o cérebro. A única solução: cirurgia.
Ora, como eu não tenho possibilidades financeiras tive que fazer todo o processo normal de ir à médica de família mostrar a TAC, pedir pra ser encaminhada para o otorrino do hospital da minha área de residência, essas coisas. Ela como viu que a coisa era urgente não demorou 1 mês até o hospital me chamar para a consulta.
O médico que me atendeu e que, posteriormente, me irá seguir o resto da vida porque esta doença assim o obriga com o risco de voltar a surgir, foi super acessível, explicou-me tudo direitinho e marcou a cirurgia. Como ele é o responsável pela lista de cirurgias do serviço de otorrino, avisou-me para estar a contar que num caso como o meu não iria demorar um mês para ser chamada para cirurgia. Entretanto, mandou-me fazer uma medicação, gotas no ouvido e no nariz, até ao dia da cirurgia para ir mantendo as coisas estabilizadas porque ele avisou-me que uma otite ou uma infeção em cima disto tudo iria ser muito mau.
Entretanto ele falou comigo há 2 semanas e disse-me que a cirurgia esteve marcada para dia 6 deste mês mas como apareceu um doente oncológico teve de passar à frente, e disse-me a data definitiva que marcou para a minha cirurgia.
Serei operada daqui a uns dias, não vou dizer o dia porque, assim como há muita gente que vem aqui e me quer bem, também há meia dúzia que vem e está doidinha para me ver enterrada até ao pescoço, e uma ou duas a desejar que esteja enterrada, literalmente. "
Eia Márcia, estás a exagerar!", não estou meus amores, e nestes últimos dias em que tenho andado mais em pânico, meia perdida, incapaz de tomar sequer conta dos meus filhos quanto mais de mim, a precisar de todos os cuidados e mais alguns, físicos e emocionais, porque entretanto as vertigens, dores de cabeça e tonturas têm-se agravado, tenho visto realmente quem é quem.
Falo-vos não só de amigos, que esses nunca os tive, fui tendo colegas de vida, daqueles que vêm e vão, mas, principalmente, de família. Tenho percebido, com alguns desabafos que tenho feito no meu facebook pessoal acerca da minha falta de paciência, de fé e tudo o mais, que as primeiras a virem dar machadada são pessoas da minha família, pessoas que, supostamente, me conhecem e que, à partida, se lessem bem as entrelinhas iriam vislumbrar um profundo desespero, uma enorme angústia e um pânico tremendo que vive dentro de mim.
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Ai mas vai correr tudo bem!", é tudo o que me sabem dizer. Eu sei que a intenção é boa, que não se deve pensar no pior porque o mau atrai o mau, mas a verdade é que sou eu que me vou deitar numa marquesa, de livre e espontânea vontade, porque não tenho alternativa, ou isso ou morro a curto prazo, mas excesso de positivismo não me chega, não me basta, não me acalma. Da forma que o tumor está, a crescer para cima, se rebentar e entrar no cérebro posso ter uma encefalite ou meningite, ou se for para a veia principal do pescoço - que agora não me lembro o nome - pode formar um coágulo de tal forma que tenho um avc.
Mesmo a cirurgia tem os seus riscos, porque nem a TAC foi totalmente esclarecedora de como isto está por dentro, portanto, os médicos vão abrir isto às cegas sem saberem bem o que vão encontrar. Vai ser uma cirurgia meticulosa para que a meninge não sangre porque se ela sangrar muito corro o mesmo risco de apanhar uma meningite ou encefalite à mesma, ainda assim, o Dr. Bernardo acredita que entre o operar com riscos e não operar, é preferível operar.
Obviamente que saber isto tudo, para quem foi sempre saudável e nunca fez uma cirurgia com anestesia geral, é assustador. Acrescentando ao facto de ter dois filhos para criar, tudo toma proporções ainda mais assustadoras.
Por muito que eu tente ser positiva, é difícil lidar com tanta emoção ao mesmo tempo e ainda ser capaz de fazer uma vida normal. Por isso é que chamei a minha mãe para ficar comigo um tempo e me ajudar a cuidar da casa e dos miúdos, visto que sozinha não sou capaz. E a culpa que isto me causa? O não estar capaz, não ser o suficiente para cuidar dos meus filhos, de não estar disponível para eles? Vocês não imaginam.
É certo que as mães têm muito a mania de acumularem culpas em relação aos filhos, e eu sei que este caso está totalmente fora do meu controlo porque não fui eu que causei esta doença, nem a desejei tão pouco, portanto, o facto de me sentir incapaz, perdida, assustada, é perfeitamente normal porque a verdade é esta: ninguém sabe o que vai acontecer naquele dia naquela sala de cirurgia, só Deus. E neste momento não consigo confiar Nele, a minha fé está abalada, por muito que eu me obrigue a mante-la no coração, mas a revolta de tudo isto estar a acontecer comigo, 1 ano e meio depois de ter passado um inferno que ninguém calcula e que no meio dele tive que decidir se avançava com uma gravidez ou não, sinto-me injustiçada.
Costuma-se dizer que Deus não nos dá uma carga mais pesada do que aquela que somos capazes de aguentar, mas eu já estou a começar a definhar. São muitas provas, muitos desgostos seguidos, nem dá para eu assentar e respirar um pouco. Não tenho tido tréguas.
A fé nestas alturas é a única bengala que nos vale, mas a minha está trémula e já a atirei algumas vezes para o chão.
Portanto, têm sido dias confusos, ora estou bem e a sorrir e a fazer piadas, ora estou sentada no chão com as mãos na cabeça a chorar que nem uma criança. Para controlar, ou tentar amenizar, estes picos emocionais tenho tido o apoio incondicional da minha psicóloga que tem sido impecável comigo. Se não fosse ela... eu tenho a certeza absoluta que teria jogado a toalha ao chão e mandar foder tudo, até a vida.
Olhar para os meus filhos e passar-me pela cabeça que tudo pode acabar daqui a dias, que eles podem ficar sem mim, isso mata-me mais depressa do que uma possível cirurgia dar para o torto.
O que me vale para me abstrair são as piadas típicas do meu filho de 6 anos, das suas curiosidades, dos seus abraços, das palhaçadas típicas de um bebé de 9 meses, do sorriso com meia dúzia de dentes, são essas pequenas coisas que me vão alimentando a pouca fé que me resta e que me vão dando a esperança de que ainda vamos ser muito felizes.
Acredito que nada acontece por acaso, talvez seja Deus a dizer-me alguma coisa que ainda não tenha querido ouvir - se calhar é por isso que o problema é mesmo no ouvido - ou se calhar é a vida a dar-me mais uma luta para vencer, sei lá.
Só quero que este pesadelo acabe.
De uma coisa eu tenho absoluta certeza, (se) quando acordar daquela cirurgia eu não vou voltar a ser a mesma, mesmo agora antes de ela se concretizar, sinto que não sou mais a mesma, sinto que isto tudo me tem feito crescer à velocidade da luz, tenho aprendido a ser seletiva e restritiva com as pessoas, com os problemas, com as situações, tenho aprendido que as pessoas só ficam a troco de alguma coisa e que vale mais assumir uma solidão consentida do que uma solidão enganosa, tenho aprendido que não posso estar sempre e esquecer-me de mim para estar lá quando os outros precisam, que é preciso equilibrar as coisas, que ninguém é digno de ser salvo por ninguém sem o querer muito e também fazer por isso.
Já estou cansada de ser o salva vidas de toda a gente, agora que preciso de um, olho para os lados e ouço silêncios, sem oportunidade para cantar o meu fado.
Resta-me ir fazendo o que posso para tentar manter a calma até ao dia, vou estando por aqui, não tanto quanto gostaria.
Às vezes apetece-me vir aqui escrever silêncios mas eles não se lêem, só se escutam e são raras as pessoas que os conseguem ouvir. Não levo a mal, a vida corre, muitas vezes ensurdecendo-nos perante os outros...
Portanto, o blog está e vai continuar a passar por uma fase mais silenciosa, mais vai e vem, mas vocês entendem o porquê. Não me esqueço, nunca esquecerei jamais, deste espaço, desta família que criei aqui convosco.
E espero que assim seja durante muito tempo, não me apetece nada deixar-vos a envelhecer sozinhas.
Beijinho amores e um bom fim de semana