sexta-feira, 22 de julho de 2016

A minha história || Faculdade: ir ou não ir, eis a questão.

Chegou o momento, o momento de decidires, não o teu futuro inteiro, mas um possível caminho para chegar até ele. O secundário acabou, as férias já começaram, mas ainda tens uma decisão difícil para tomar.
Sei que na tua cabeça existem muitos "se's", "o que quero?", "o que é melhor para mim?", "valerá a pena?" Acredito que todas essas questões te deixem agoniado e, de repente, vês-te num círculo vicioso de onde só tu mesmo podes sair.
Ir ou não ir para a faculdade, eis a questão. É uma decisão que só tu poderás tomar, mas apesar disso tenho alguns conselhos para te dar, talvez a minha história te possa incentivar a encontrar as respostas para as tuas perguntas.
Em primeiro lugar, não peças a opinião a ninguém, vai haver muita divergência, uns vão dizer que sim que vale mais ter um canudo debaixo do braço do que não teres nada, outros vão dizer que vais perder tempo da tua vida porque o país está uma miséria e não vale a pena porque no fim não haverá emprego para ti. Essa divergência vai-te deixar na mesma, portanto, isto é algo que não deves fazer jamais.
Em segundo lugar, pensa se ir para a faculdade sempre fez parte dos teus planos, dos teus sonhos, não vás para lá para agradar a ninguém, seja ao teu pai ou à tua mãe, ou para manteres a profissão ativa na família, não te metas nisso. Quem vai estar lá a dar no duro és tu, não eles. E mais importante que isso, é da tua vida e do teu futuro que se trata, por isso, não deixes nas mãos dos outros aquilo que poderás vir a ser.
Em terceiro e último, o meu conselho maior para ti é: segue o teu coração. Acredita, isto pode ser (e é) balelas para tanta gente, mas é seguindo o teu coração que conseguirás acreditar em ti mesmo, é escutando-o que se abrem portas e janelas por onde podes respirar, ser livre e feliz. Em cima da mesa não coloques as opiniões dos outros como possibilidades e arrumares a tua numa gaveta, nem deixes entra na tua mente as vozes dos outros, deixando a tua à porta. Só tu podes e deves escolher aquilo que queres ser.
Queres saber a minha história? Senta-te e escuta.
Desde pequena que sempre quis ir para medicina ou psicologia, era o meu sonho, e quando o sonho começou a ganhar forma ao aproximar-me do secundário os meus pais, pessoas humildes mas também cheios de fraquezas, foram-me cortando as asas, foram-me fechando as portas. Afinal, a realidade de uma vida cheia de dificuldades, muitas vezes sem comida na mesa, ocupou o lugar do orgulho por uma filha deles querer seguir os estudos e formar-se. E eu desanimei. Arrastei-me até ao 11º ano na área de Ciências, mas eu sabia, eu sentia que o meu momento não ia chegar tão cedo e tão fácil, e desisti, deixei-me ficar pelo caminho.
Depois desse ano em que desisti da escola, a vida deu-me as voltas, apaixonei-me, engravidei e mudei-me para uma distância de 200km de casa.
No ano em que o meu filho nasceu, comecei a refletir sobre muita coisa, sobre as minhas escolhas, sobre o meu trajeto até ali, sobre os sonhos que tinham ficado na palma da minha mão, a vontade imensa mas frustrada de me formar num curso para o qual o meu coração me impulsionava a ir. Foi aí, nesse ano de dúvidas, de tormentos, de medos, que eu percebi qual era o curso certo para mim: psicologia.
Foi quando decidi voltar atrás, voltei para o 10º ano mas para outra área, humanidades, e fui estudar à noite. Durante todo o dia era mãe e à noite o pai ficava com o meu filho e lá ia eu para as aulas, muitas vezes desanimada, cansada e sem vontade de ir, a perguntar se todo aquele esforço valeria a pena, mas ia.
Se me perguntares se eu tinha a ajuda ou o apoio moral de alguém, respondo-te que não. Na altura, o pai do meu filho era o próprio a atirar-me à cara de que ia ser "sol de pouca dura", de que não ia ser capaz, mas eu continuei sempre em frente, pelo menos não ia morrer sem tentar!
Quando cheguei ao 12º ano e tinha que começar a decidir para que faculdade queria ir e quais as médias de ingresso e o exame específico exigido pelas faculdades, percebi que estava no limbo e que era ali, naquele ano de 2013, que se ia decidir o rumo da minha vida. Por um lado as médias eram altas, por outro eu esforçava-me para ter uma média de secundário suficiente para me garantir a entrada numa delas, mas Deus quis levar-me mais longe, testar a minha força e a minha persistência. Enquanto colegas meus tiravam altas notas dos testes de Português, eu não conseguia tirar mais do que 10/11 valores e isso deitava-me abaixo e frustrava-me porque eu sempre tinha sido boa aluna a Português, mas quando entrei no secundário a exigência mudou e eu não conseguia corresponder a ela.
Essa ano foi um ano louco. Só para teres uma noção, eu levantava-me às 6.30h da manhã para às 8h estar no curso de pastelaria que resolvi tirar, era outro sonho que estava na palma da minha mão e consegui realiza-lo, saía às 16h, ia para casa descansar um bocado até às 19.15h porque depois tinha aulas das 19.45h até à meia noite. Depois quando chegava a casa ainda ia estudar para me preparar para o exame nacional de português, até à 1/2h da manhã e isto foi sempre assim, desde Março até Julho.
Mesmo com todos os obstáculos à minha volta, o facto de privar o meu filho das nossas brincadeiras, da minha presença, de ter que lidar com o fim da minha relação que estava já por um fio bem fino, ter que lidar com a não aceitação da minha separação por parte dos meus pais que se viraram contra mim, contra tudo e contra todos, eu mantive-me firme sem nunca me desviar do objetivo: ir para a faculdade.
Nas vésperas do exame nacional, tive uma conversa com a minha professora de Português, nessa altura eu já sabia que queria ir para o ISCTE, que a média de ingresso era de 15 valores e o exame pedido era o de Português. Nessa conversa ela disse-me "tem calma, vai para o exame na descontra, mas não vás com expectativas muito altas porque aquilo (o exame) é muito dificil" e a única coisa que lhe respondi foi "ou entro agora ou não entro nunca mais".
No dia do exame posso-te dizer que me sentia dormente, parecia que não sentia nada, estava lá, à espera que me fosse dado tudo e pudesse começar o exame. Nesse exame saiu-me Fernando Pessoa e o Memorial do Convento, li o enunciado todo, respondi a tudo na folha de rascunho, depois passei as respostas todas para a folha de prova e no fim reli tudo para ter a certeza que nada me tinha escapado. Passaram-se as 2h e meia, acabou o tempo, entreguei o exame, a minha sorte estava lançada.
Quando saíram na internet os critérios de correção ainda fui cuscar à espera de poder ter uma noção de que nota poderia ter, mas não adiantou de nada, tudo dependeria do professor corretor e daquilo que ele achasse das minhas respostas.
A única certeza que eu tinha é que estava com uma média de secundário de 14 e umas décimas e para subir um valor na média precisava de tirar no exame nacional mais de 16 valores.
Garanto-te que foi a espera mais agoniante da minha vida... Até que um dia recebo uma mensagem no telemóvel de uma colega a dizer "tiveste 17 e foste a única que passou, o resto chumbou no exame". What??? Não acreditei, peguei no carro e fui à escola ver a pauta dos resultados e... lá estava ele, o meu 17 redondinho e maravilhoso que me deu passaporte direto para a faculdade.
Chorei, ri, pulei, quem olhava para mim dizia que eu estava louca mas não quis saber! A única pena que tive foi de não me cruzar mais com a minha professora de Português, o meu silêncio e o meu sorriso iriam dizer-lhe muito, sem eu precisar de lhe dizer por palavras "afinal enganaste-te!".
Depois disso fui de férias, feliz da vida. No dia em que fui ao ISCTE fazer a minha inscrição senti um misto de medo por causa do desconhecido, mas uma sensação de dever cumprido e pura satisfação, apesar de ter ouvido do meu pai "agora é que vais? agora era a altura de estares a sair de lá com o canudo, não era entrar!" quando lhe liguei na noite em que saíram as colocações e lhe disse que tinha entrado, e ter visto também um encolher de ombros do pai do meu filho quando lhe disse que tinha entrado na faculdade.
Ninguém ficou feliz por mim, bastou ficar eu mesma.
Portanto, esta história, que é a minha, serve para te mostrar e dizer que não há nada, ABSOLUTAMENTE NADA que tu não possas fazer e conseguir na tua vida. Se é a tua vontade, o teu sonho, vai, faz, foca-te.
Vão haver muitos percalços, muitos obstáculos, muitas rasteiras, muitas desilusões e desânimos, mas tudo isso faz parte da construção de uma vitória, mesmo que ninguém esteja lá para te dar a mão ou mesmo que tenhas mãos, bengalas e tudo o mais para te ajudar a subir, a vitória será sempre tua porque o caminho é teu, as escolhas são tuas.
Por isso, lembra-te, se eu, a tropeçar em tanto pedregulho, consegui e cheguei lá, tu também consegues. Basta quereres, muito.

Boa Sorte.








10 comentários:

  1. O que escreves dá para ver logo que sai tudo do fundo da alma.
    Gosto imenso da forma como escreves.
    Beijinhos
    elisaumarapariganormal.blogspot.pt

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    1. Eu adoro escrever! É algo que me esvazia e preenche ao mesmo tempo.

      Beijinho minha querida

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  2. Parabéns por concretizares os teus sonhos, tu mereces, depois de todo o esforço!

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    1. Obrigada minha querida! Quando se quer muito uma coisa nada nos vence!

      Beijinho

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  3. O teu texto diz tanto de ti. És uma lutadora e todos os que te rodeiam deviam estar cheios de orgulho de ti. Eu estou. E vais ser uma excelente psicóloga e ajudar muita gente, porque só quando fazemos o que gostamos é que o fazemos bem!

    Beijinhos, Dalila ♡ | The Lost Louboutin Blog |

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    1. Ohhh obrigada minha linda! Eu vou fazer de tudo para honrar a profissão mas, mais do que isso, farei de tudo para chegar a todos aqueles que precisarem de mim.
      Beijinho

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  4. Eu acho que o maior problema com a universidade é a especialização precoce, termos que escolher o curso tão cedo. Deveria haver um ano comum, com disciplinas de várias áreas. Eu aos 17 anos não tinha a mais pequena ideia do que queria estudar - mas tive uma enorme sorte porque calhei no curso que é mesmo a minha cara. E o ISCTE é o melhor! Ainda hei-de lá voltar para o doutoramento. Parabéns pela vontade e persistência :)

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    1. Também concordo contigo, eu na altura já sabia bem o que queria, já tinha 25 anos. O problema é que os miúdos que vão, muitos deles ou vão forçados, ou vão sem saberem ao que vão ou simplesmente deixam-se ir e muitos perdem-se no mundo boêmio que a faculdade também tem.
      Obrigada!

      Beijinho

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