sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

A mãe é que sabe || Depressão pós parto VS Baby Blues

Se há boa altura para falar sobre isto, a altura é hoje, agora.
Durante a minha segunda gravidez, mais do que o parto, sempre foi este assunto que me assustou, eu conheço uma depressão pós parto, passei por ela há 6 anos atrás, e foi sempre a hipótese de voltar a dar de caras com ela o que mais me aterrorizou numa nova gravidez.
Quando o Mateus nasceu, assim que olhei para ele apaixonei-me perdidamente, coisa que não aconteceu, de todo, com o meu primeiro filho. Não tenho culpa, são coisas que acontecem a qualquer mãe, o amor nem sempre é imediato, dessa culpa já me livrei com o passar dos anos.
Como me apaixonei muito rápido pelo Mateus, pensei que a depressão não tinha qualquer motivo para entrar, que bastava ter só determinados cuidados que ela nunca iria aproximar-se.
Que ingénua... Ela está tão presente... No fundo, ela já cá estava muito antes do parto, mas eu contive-a, fiz-lhe frente, lutei contra ela. Mas há um mês para cá ela tem ganho terreno, dia após dia. Aproveita-se da minha exaustão, aproveita-se do facto de ter um miúdo totalmente dependente de mim, do ele ser chorão e ultrapassar todos os meus limites, aproveita-se das minhas revoltas com terceiros. A depressão pós parto é uma inimiga que se alimenta das grandes fragilidades de uma mulher.
Nos dias seguintes a seguir ao parto do Mateus veio a tristeza, uma coisa esquisita, estava feliz por o ter, por ele estar bem e saudável, por eu própria estar a recuperar bem, dentro do possível, mas sentia-me triste, e aí foi o meu alerta. Depois pesquisei e vi que afinal, tudo não passava de Baby Blues.
É preciso distinguir depressão com BB. O baby blues (BB), é o que se chama de melancolia e não é mais do que uma perturbação emocional que pode ocorrer após o parto. Basicamente, a mãe sente uma tristeza e um desconforto súbito, que muito se deve à oscilação hormonal. Por norma, o BB passa naturalmente num espaço de 2 semanas, mais ou menos, mas às vezes não passa, e é quando entramos na depressão pós parto.
Os dois conceitos diferem entre si, mas o limite que os separa é muito ténue, portanto, estar alerta é importante.
Na altura, fiquei tranquila, a tristeza começou a passar e comecei a sentir-me melhor, logo presumi que tinha passado pelo Baby Blues. Mas hoje não, hoje está longe de se uma crise de BB, hoje tenho a certeza de que é a outra, a cabra, que se instalou para arrasar com tudo, para me empurrar pra dentro dos lados obscuros do meu inconsciente, para acabar com todo o trabalho de construção emocional que tenho vindo a fazer desde o ano passado, para me fazer sentir uma merda como mulher e mãe. Porque ela vive disto, da dor, do sofrimento alheio.
Estar em silêncio é o pior que uma mulher, nesta condição pode fazer! Lembro-me perfeitamente da minha primeira depressão pós parto, eu, com 20 anos, imatura, sozinha em Lisboa sem família e amigos, com um namorado que era 3 vezes mais imaturo do que eu agarrado à mãezinha e a precisar que lhe dissessem o que tinha de fazer. Meu Deus, como é que eu sobrevivi àquilo... Percebi que tinha atingido o meu limite quando, após ter sido traída pelo namorado porque, segundo ele, precisava de desabafar (e foi desabafar com mulheres, enquanto eu lutava para viver e conseguir cuidar do meu filho), no auge do meu sofrimento e de um acumular de dores provocadas por tanta mudança, eu pensei em matar o meu filho e suicidar-me. Foi aí, nesse exato momento, que se fez clique na minha cabeça e disse "ok, preciso de ajuda, isto não sou eu".
Fui à procura dela, uma psicóloga maravilhosa que muito me ensinou, que me soube ouvir, orientar, durante 1 ano estive em terapia e ao fim desse tempo eu estava pronta para lidar com a culpa que a cura da depressão pós parto tinha deixado pelo caminho e voltar a viver.
Foram 5 anos a tentar perdoar-me por não ter conseguido ser a mãe que sempre sonhei ser para o meu filho, foram 5 anos a culpar-me por me ter deixado cair em depressão, por não ter sido mais forte que isso, como se eu pudesse controlar tudo. Mas ao fim de 5 anos, aceitei o que se passou, reti as lições que tinha que aprender e segui em frente.
A falta de paciência com tudo e todos, o peso da responsabilidade em excesso de ter que educar os filhos porque o pai está mais preocupado em manter o colinho da mamã e viver alheado da adultícia, a tristeza que não se explica, a agressividade nas palavras arremessadas, está tudo aqui. E mói, desgasta.
Tenho a sorte de ter uma excelente psicóloga que me acompanha nesta luta, mas o caminho... O caminho é sempre solitário.
À nossa volta existem três tipos de pessoas: aquelas que dizem que a depressão pós parto não existe, que são só chiliques para chamar a atenção; as que não nos entendem, por muito que até se esforcem e pesquisem sobre o assunto; e as que sabem exatamente do que falamos. Este último grupo de pessoas, são aquelas que muitas vezes não falam do assunto por vergonha ou por medo de serem julgadas.
Já convivi com os três tipos de pessoas, mas também já lidei com uma pessoa que não conhecia o problema, que tinha todas as ferramentas para o conhecer e, quiçá, ser útil, mas preferiu procurar outras mulheres como escape. Mas melhor são aquelas que olham para mim e dizem "és psicóloga e também cais em depressão?", como se os psicólogos, os psiquiatras, os médicos e afins fossem imunes às doenças dos comuns mortais, como que se, de repente, virássemos deuses intocáveis.
Isto tudo para dizer que a depressão pós parto não é um chilique, não é nenhuma chamada de atenção, é uma doença grave que se não for tratada é capaz de arrasar com uma família inteira, até não sobrar mais nada para dizimar.
A depressão pós parto tem cura sim, eu já curei uma há uns anos atrás, mas também não significa que o facto de surgir uma vez vá surgir em todas as outras. Eu tive o azar de voltar a ter, não me acho mais fraca ou pior mãe por isso, biologicamente sou susceptível para isso e a probabilidade aumenta quando se tem uma história difícil, um passado que ainda magoa.
O meu conselho é que procurem ajuda, não temos que viver isto sozinhas, apesar do caminho ser doloroso, às vezes longo, muitas vezes incerto, partilhar o que nos dói com alguém que nos entenda, que nos respeite, que nos considere, e, sobretudo, que nos ouça, é metade do que precisamos para embalarmos a depressão pós parto e a mandarmos à merda.


6 comentários:

  1. Adorei o post! Se à coisa que me assusta é a depressão pós parto. O facto de nunca ter desejado ser mãe, da gravidez ter sido repentina e completamente inesperada faz com que tenha dúvidas e muitos medos acerca deste tipo de depressão. Deve ser uma sensação...

    Obrigada por partilhares a tua experiência.

    Beijinhos*

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  2. Nunca sofri de depressão pós parto! Mas sempre foi um assunto pelo qual tinha medo nas minhas duas gravidezes pois embora deseja-se muito ser mãe sei que acontece imensas vezes isso a muitas mamãs! Beijinhos

    Lusitana*Blog

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  3. Post muito interessante...eu não tive depressão pós parto mas sei que muitas mulheres têm, infelizmente.
    Gostei muito, Beijinhos

    misscokette.blogspot.pt

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  4. A depressão seja ela pós-parto ou qualquer outra assusta.me imenso. Conheço casos que arrasa com a pessoa e as que estão à sua volta. E sim existe muitas pessoas que não entendem e nem se esforçam por isso.
    Muita força para superares este desafio!
    Obrigada por partilharem a tua experiência e por teres passado no meu cantinho :)

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  5. Texto fortíssimo Márcia...consigo "ler" além das palavras... intenso!!! Obrigada por partilhares estes momentos mais sérios connosco. Depressão pós parto é das coisas que mais me assusta...principalmente porque no nosso dia a dia com a exaustão metida ao barulho (e não sei o que é ter filhos humanos apenas animais) e já fico um pouco fora de mim ...imagino o que será ter um pequeno ser dependente de nós 24 por 24 e lá está...exaustão a outro nivel ao barulho!!!
    Não dá para se ter uma pequena ideia pelo que passaste...não dá sequer para imaginar ...mas só demonstra a pessoa que és...uma mulher com M grande que os teus filhos só poderão ter um orgulho enorme na mãe que têm! Uma grande maioria das mulheres não aguentaria percorrer todo esse caminho com tantos percalços. Mas tu conseguiste, estás aí, tens dois filhos maravilhosos e tu própria és uma mulher maravilhosa que apesar de não te conhecer pessoalmente é como se conhecesse e só quero estar próxima nem que seja através das tuas publicações. Podias-te ter tornado uma pessoa amarga e revoltada com a vida (como tantos com quem nos cruzamos diariamente)...mas não!
    Obrigada Márcia...o teu blog é muito enriquecedor para mim!!
    Muitos beijinhos
    elisaumarapariganormal.blogspot.pt

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    1. Ohhhh tão querida! Emocionas-me sempre com os teus comentários, com o teu feedback, é tão bom!
      É verdade que às vezes penso "caramba, como é que eu cheguei aqui com tudo aquilo que já aguentei, como é que eu ainda tenho força, como é que eu ainda gosto da vida?", mas a verdade é que gosto de viver, e muito. A vida nunca me déu tréguas, foi sempre dificil, desde muito pequenina (quando a vida não deve ser mais do que brincar, mas nem isso me deixaram), mas gosto de estar cá, de ir aprendendo, de crescer. E tenho crescido tanto Elisa, nem imaginas!
      Obrigada pelas tuas palavras que significam tanto para mim, obrigada por estares sempre aí, obrigada.

      beijinho :*

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