quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

A mãe é que sabe || Deixar ou não deixar chorar?

Hoje trago-vos um assunto, um tanto ou quanto sensível, isto a propósito de andar a sofrer com choros e birras do Mateus a toda a hora, todos os santos dias. Não, não estou a exagerar, esta criatura é bem capaz de passar um dia inteiro a choramingar, com algumas crises de choro intenso pelo meio, e claro, a minha paciência vai-se diluindo durante toda a semana, até chegar ao fim de semana com a língua de fora e com vontade de recuar uns anos e deixar-me ficar por lá. Não é que não goste dos meus filhos, mas às vezes o cansaço é tanto que faz-me pensar num tempo que eu sei que não volta, enfim, adiante.
A questão que muitas vezes os pais colocam é, deixar ou não deixar o bebé chorar?
O senso comum diz que sim, que chorar faz bem aos pulmões e que não se deve mimar demais os miúdos porque eles habituam-se mal. A ciência diz que não, que não se deve deixar um bebé chorar devido às consequências do excesso de cortisol (hormona libertada pelo cérebro que é responsável pela resposta ao stress).
Para mim, a resposta é o bom senso.
Sendo mãe já de segunda viagem, a minha experiência ensinou-me que antes de pegar num bebé (quem diz um bebé diz uma criança de colo) assim que ele começa a chorar e andar a embala-lo de um lado para o outro, com a ânsia de o tranquilizar, deve-se ter em atenção algumas coisas no imediato a que eu chamo de hipóteses de nível 1: se tem fome ou a fralda suja. Estas são sempre as primeiras coisas em que se deve pensar e testar. Caso nenhuma das hipóteses se verifique, passamos às hipóteses de nível 2, ou seja, perceber se tem cólicas, se tem frio ou calor, se tem febre. Se ainda assim nada disto se verificar então passamos para as hipóteses de nível 3, e é aqui que entra o bom senso.
As hipóteses de nível 3 incluem o medo, a frustração, a necessidade de colo, de afeto, resumindo, as emoções, e lidar com emoções não é nada fácil. As necessidades emocionais de um bebé são tão importantes quanto as necessidades fisiológicas, e nisto não difere em nada dos adultos, muito pelo contrário, a única diferença é que essas necessidades num bebé são mais acentuadas por serem seres mais frágeis e dependentes de terceiros. Um bebé quando está carente ou zangado não pode simplesmente ir para um canto qualquer sozinho, enroscar-se numa manta e deixar-se estar até que passe.
Portanto, a resposta dos pais é muito importante sim, mas também é importante que eles eduquem a criança para a frustração. Vamos por partes.
Um bebé quando nasce, o único meio de comunicação que traz é o choro. É através do choro que comunica ao adulto de que está desconfortável, algo não está bem, precisa de ajuda. Mas também é preciso lembrar os pais de que um bebé é um "mini processador" de informação. A criança quando chora, comunica ao adulto de que precisa dele, e ao receber a resposta positiva (que é a satisfação da sua necessidade do momento) ela vai processar aquela informação para futuras necessidades, sejam elas quais forem, ou seja, a criança vai gravar a resposta do adulto como algo do género "ok, se eu fizer isto eu sei que a resposta que vou ter é esta", e à medida que o tempo vai passando a criança vai testando e absorvendo todo o tipo de respostas possíveis, e isto serve para as necessidades fisiológicas... e também para as birras. E é quando eles aprendem a fazer birras que a coisa fica preta.
Eu já vi crianças a fazerem grandes birras a tal ponto de chorarem e quase a sufocarem no próprio choro. E lidar com isto não é fácil, mas é possível ensinar uma criança a lidar com este tipo de frustração.
E como é que isso se faz? É com o tempo, com o educar, e isso começa desde cedo.
Costumo dizer que chorar nunca fez mal a ninguém, mas tudo tem um limite. Obviamente que não se deve deixar uma criança chorar até à exaustão ou até que sufoque no próprio choro, na esperança de que ela se acalme sozinha. É importante ensina-la a acalmar-se sozinha, daí ser importante que, por vezes, se permita à criança chorar com um semi-conforto, mas é igualmente importante que os educadores tenham atenção aos seus limites.
Um pai e uma mãe não são de ferro, ninguém o é, portanto, aguentar uma choradeira que dure mais do que 30 minutos, pode muito bem tornar-se insuportável. O meu conselho nesta situação é que deixem a criança com alguém de confiança, ou no caso de não terem ninguém por perto, deixa-la em segurança no berço, uns minutos apenas para poderem saírem do espaço onde estão com a criança e respirar fundo. Pessoalmente vou à janela, abro-a e respiro profundamente. Isto pode parecer banal mas resulta imenso, às vezes basta só isto para me acalmar e voltar com outra paciência.
Aquilo que adotei com o meu filho mais velho, e agora com o mais novo, é tentar acalma-lo quando ele está com uma crise de choro, falar com ele, explicar que eu estou por perto, que ele não precisa ter medo, que não me vou embora, abraça-lo, embala-lo um pouco e depois deixa-lo no berço ou na espreguiçadeira, nunca me afastando demasiado. Com o mais velho resultava na perfeição, mas com o mais novo a coisa não é assim tão easy (acreditem quando digo que, às vezes, quase enlouqueço com ele). Mas são temperamentos diferentes, é normal que assim seja.
Não vou dizer que já não me passei e o deixei no berço a chorar durante algum tempo e esperar que ele se acalmasse sozinho! Estar 24h com um bebé, não ter espaço nem tempo para poder respirar um bocadinho (sim, porque ele não é criatura de muitas sestas, faz sonos de passarinho), não ter praticamente contacto com o mundo exterior porque, de repente, as amigas esqueceram-se de que continuo a ser uma pessoa passível de comunicar, não ter tempo para comer decentemente porque ele não escolhe a hora a que chora, é bem normal que hajam dias com a paciência a níveis muito baixos, portanto, às vezes também faço birras feias.
Mas, por norma, a minha conduta passa por acalma-lo dando-lhe garantias de que estou por perto caso precise de mim, que o amo, dar-lhe mimo e colo, mas também ensina-lo a gerir as suas frustrações, a acalmar-se quando está irritado, de que não posso estar 24h ao colo com ele, e tudo isto envolve o choro porque, como eu disse antes, é o único meio de comunicação que ele tem, é a única forma de ele dizer "não aceito isso".
Eu conheço bem de perto pessoas que respondiam ao choro do bebé com colo, se ele chorava pelo que quer que fosse ela pegava nele e andava com ele pela casa um dia inteiro, se preciso fosse. Claro que eu não opinava, na altura eu não era mãe, mas já ali sabia que, a longo prazo, aquilo não ia correr bem. A verdade é que hoje, 9 anos depois, a criança não consegue acalmar-se sozinha, é uma criança que fica extremamente excitada quando algo não está de acordo com a sua vontade e não aceita um "não".
Portanto, é muito importante que os pais eduquem as crianças para lidarem com a frustração que existirá sempre na vida delas, quer na escola, quer nas suas relações interpessoais, quer nos seus empregos, até mesmo consigo próprias. E, por incrível que pareça, é desde o berço que essa aprendizagem começa.
As crianças são autênticas esponjas de informação, são nas trocas de mensagem - resposta que elas se desenvolvem e aprendem a gerir as suas emoções.
Resumindo e concluindo, há dias em que temos mais paciência, há outros em que quase enlouquecemos, às vezes as técnicas não funcionam e só queremos embalar os putos e manda-los para a Bolívia de férias, mas o importante é nunca esquecermos de que os miúdos de amanhã serão o fruto daquilo que fizermos hoje com eles, e claro, usar o bom senso é fundamental nesta aventura de ser pai e mãe.
Até para a semana!





7 comentários:

  1. Muito bom post...concordo ctontigo mas às vezes apetece tanto que se calem que acabamos por ceder...por mim falo :):
    Beijinhos ;).

    misscokette.blogspot.pt

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  2. Excelente post como sempre. Apesar de ainda não ser mãe tenho aprendido imenso com a tua partilha! Obrigada Márcia:)
    Muitos beijinhos
    elisaumarapariganormal.blogspot.pt

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  3. Olá Márcia, não poderia estar mais de acordo com isso tudo que dizes. Apesar de só ter um, pois n tenho meio de comparação, acho que acima de tudo no meio é que estão os limites e às vezes o instinto e a ciência se complementam bastante. Acho que a educação é como o leite que se bebe todos os dias um bocadinho e começa no nascimento, sem dúvida!
    Acho que uma das coisas mais importantes a ter em conta quando se educa uma criança/bebé é ajudá-la a lidar com a frustração (pois isso é prepará-los para a vida)! Isso passa logo no início pela gerência do choro, que como referes é a sua forma de comunicar.
    Fui professora durante uns anos e o que mais me impressionava era ver galfarros de 14 anos a fazerem birras. Estou certa de que isso é fruto da forma como eles, ao longo do seu crescimento, foram aprendendo a gerir as frustrações. Este assunto daria pano para mangas. E sim, nós tb chegamos ao limite, temos os nossos momentos e tb precisamos de gritar!! bjs

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  4. É um assunto bem delicado e acredito que sua atitude esteja certíssima
    Vou aprendendo e memorizando isso para pôr em prática com meus futuros filhos
    Beijos
    blogueirasara.blogspot.com.br

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  5. Gostei do post Marcia criação de filho não é fácil mas com uma dosagem de amor e muita paciência conseguimos chegar-lá. bjim obrigada pela visita volte sempre

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  6. Criar um filho é uma tarefa que exjge muita dedicação...bj

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  7. Adorei o post. E concordo com tudo, na teoria. Na prática, daqui a uns meses saberei dizer se consigo aplicar. Vai ser difícil, isso tenho a certeza, eu não suporto ver bebés a chorar, o choro do bebé faz-me uma certa confusão cá dentro :| Pode ser que depois de ser mãe isso me passe um pouquinho... Além disso acho que é importante eles serem autónomos mas acho imprescindível que não se sintam sozinhas e que os ensinemos a gerir as emoções e as frustrações.
    Sigo uma Youtuber que tenho como modelo... aquela paciência que ela tem com a filha quase parece surreal... Metade do que ela consegue ser chegava-me para me sentir bem, é a Flávia Calina. ;)
    Beijinhos,
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