terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

|| A vida vive revoltada comigo

Hoje não vos trago nenhuma review, nenhum produto novo, nenhuma dica, nenhuma opinião ou peripécia da maternidade. Hoje trago-vos o medo, o pânico, a revolta, trago-vos uma partilha dura.
Quando estava grávida do Mateus, aos 5 meses ganhei uma otite súbita. Como eu e a dor de ouvidos não nos arranhamos, de maneira nenhuma, fui a uma urgência no Santa Maria, em Lisboa. Detectaram-me uma otite e prescreveram-me a medicação apropriada para uma grávida. Vim para casa, mas melhoras nem vê-las. Sei que num espaço de 3 dias mal dormi, com tanta dor, e o pouco que dormia era de exaustão e sentada no sofá, e nesses 3 dias andei sempre em urgências no hospital por não aguentar a dor. Até que a coisa lá passou, mas o ouvido continuava a purgar um líquido estranho, e resolvi ir a um otorrino privado, o Dr. Carlos Ruah. Ele lá me viu o ouvido e também ele prescreveu uma medicação, mas desta vez local, sem antibióticos orais, mas ele avisou-me logo que o que eu tinha era um granuloma timpânico (seja lá o que isso for) e que provavelmente só depois do parto é que ele iria conseguir tratar-me como deve ser, ou seja, vim pra casa, fiz o tratamento direitinho mas não passou e esperei até passar o parto para lá voltar.
Três meses após o Mateus nascer, voltei ao Dr. Carlos, e ele medicou-me com uma coisa mais forte. Fiz reação ao medicamento e ele mandou-me parar. Quando lá voltei para ser revista, mandou-me fazer uma TAC e pôs-me duas hipóteses em cima da mesa: ou tinha uma otite média crónica ou tinha um colesteatoma.
Fiz a TAC, a semana passada fui buscar o resultado, li o relatório, mesmo não percebendo muito do assunto, e lá estava ela, a palavra desconhecida do meu vocabulário mas estupidamente assustadora: colesteatoma.
Hoje fui à consulta com o Dr. Carlos Ruah e depois de analisar as imagens e ler o relatório confirmou-me, tenho um colesteatoma com uma extensão enorme no ouvido e a precisar de ser operada o quanto antes.
Para quem não sabe, um colesteatoma é um tumor benigno no ouvido, simplesmente porque não se espalha para outras regiões do corpo, exceto se corroer os ossículos do ouvido e chegar à meninge, estrutura membranosa que protege o cérebro.
Quando a infeção chega à meninge a coisa torna-se muito grave, podendo provocar meningite ou abcesso cerebral e puff...
Quando li no relatório que tenho um colesteatoma pensei "bem, isto foi detetado a tempo, portanto, opero isto e fica bom", até o médico me dizer a extensão do problema. Através da TAC ele conseguiu ver que este colesteatoma já aqui está há muito tempo, muito antes de estar grávida, e que foi a gravidez que fez o boom dos sintomas, e por isso, já tenho uma extensa erosão dos ossículos, inclusive aquele que separa o ouvido...da meninge, e uma grande perda auditiva (isto aqui já não é novidade para mim). A operação tem riscos porque o médico não sabe o quanto os nervos da face estão expostos nem a real dimensão dos estragos, pode correr tudo bem na operação como posso ficar sem ouvir por completo ou, na pior das hipóteses, ficar com o lado direito da cara paralisada.
Depois de ouvir tudo isto, eu não sei como é que cheguei a casa, não me lembro do caminho que fiz, não me lembro de pensar em nada, mas pensar em tudo ao mesmo tempo, as lágrimas corriam sem esforço, sem eu conseguir segura-las.
Ok, isto é operável. É uma boa notícia. Mas tem riscos dos quais, para mim, serão insuportáveis se eles vierem a acontecer. Uma operação tem sempre os seus riscos, obviamente, mas aquilo que mais me assusta, além das possíveis consequências, é levar anestesia geral e não voltar a acordar.
Se fosse só eu, sozinha, epa, que se lixe. Ia para a operação e fosse o que Deus quisesse. Mas tendo dois filhos pequenos a coisa muda de figura, eles não merecem e eu também não.
Hoje estou revoltada com a vida, talvez porque ela passa a vida revoltada comigo. Desde que me conheço não tenho tréguas, todos os anos aparece uma, duas ou mais que três coisas para eu "tourear", para bater de frente comigo, para me mandar pro fundo do poço, como se eu só pertencesse ali, ao escuro, à dor, ao abismo.
Hoje tenho vontade de mandar tudo à merda, fuck this shit. Estou cansada. Não merecia passar pelo tanto que já passei. Caramba, tenho uma vida inteira pela frente! Tenho 2 filhos. Tenho sonhos. Tenho vontade de viver.
Mas a vida parece-me querer roubar tudo, a paciência, o sorriso, a esperança, os sonhos, tudo.
Estou cansada de ver um rasto de sofrimento atrás de mim, de olhar lá para o fundo e ver as mesmas nuvens de sempre a perseguirem-me.
Vida, mas o que é que eu te fiz mulher? Já não chega?! Já não basta?!
Estou cansada.


7 comentários:

  1. opá :(
    Por um lado acho que devias fazer a operação, acho que devias meter a tua saude em primeiro lugar. Por outro, percebo muito bem o que queres dizer. é uma decisão complicada.. :/ beijinhos querida e muita força! estaremos aqui para te acompanhar!

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  2. Um texto muito intenso e doloroso amiga. Percebo exactamente como se sente. Com 27 anos fui operada a um tumor. Fiz alergia à anestesia entrei em coma, do qual saí três dias depois. De então para cá sempre que preciso de uma cirurgia, (e já fiz 8) o pavor é enorme.
    Mas hoje em dia, a medicina está muito mais avançada, é muito raríssimo a pessoa morrer na mesa de cirurgia. Tem que acreditar que tudo vai correr bem. Ou arriscar não operar e viver o resto da vida com essa espada sobre a cabeça. É uma decisão que tem de tomar sozinha amiga. Pese todos os prós e contras com o seu médico.
    Minha irmã foi operada a 29 de Dezembro a um ouvido, por causa de um tumor benigno. E graças a Deus correu tudo bem. Ela faz em Junho 67 anos e também estava cheia de medo.
    Rezarei por si.
    Um abraço

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  3. Olá :)

    Chorei ao ler o teu texto. Chorei porque é injusto muita coisa. Mas não vou por ai. So te quero dar força. Tens dois filhos e é a esse pensamento que te tens que agarrar. Hoje em dia não se morre da anestesia(ou mt raramente). Tens que ter pensamento positivo. Tudo vai correr bem. Quando as forças falharem diz, grita, estaremos aqui para te tentar passar alguma força.
    Desistir é que nunca ok??
    Qualquer coisa é só dizeres.

    Beijocas

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  4. Concordo que a vida nunca dá tréguas e que nem sempre é justa sei que tudo isto é complicado mas também sei que vais conseguir passar por tudo isto e vencer. Tens dois filhos e uma vida inteira pela frente com eles e é a isso que tens que te agarrar. Muita força querida que tudo vai correr bem.
    Beijinhos
    http://virginiaferreira91.blogspot.pt/

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  5. Só agora li este post Márcia!
    Falando sempre do lado de cá (o mais fácil): Tenta respirar fundo, ficar o mais serena possível e decidir com muita calma. Deverás ser operada, mas claro que é uma decisão que só te cabe a ti...mas pensa bem, é como a Elvira diz a medicina hoje em dia está muito avançada e as coisas correm bem também!!
    E tu és uma mulher de armas, depois de tudo o que já passaste não é isto que vai abalar...também vais vencer Márcia!!!
    Um grande beijinho:(

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  6. Olá Márcia! Conheci hoje o teu blog e, com muita pena minha, tive logo de me deparar com uma situação assim.
    Não consigo imaginar como te sentes agora e mesmo assim, ao ler o teu texto, chorei contigo. Chorei porque é tão injusto, sabes?
    Espero que não baixes a cabeça e que lutes, todos os dias. Porque agora chegou a tua hora de mostrares que podes vencer tudo. Tu consegues.
    Um beijo gigante e muita força!

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  7. Oh Márcia! Nem tenho palavras... É realmente uma situação muitíssimo complicada. Nem sei que te diga, a única coisa que me ocorrer é dizer-te para te agarrares à vida, e inspira-te nos teus filhos. Falar é fácil, todo o sofrimento é compreensível menos para quem o sofre... E sim, a vida prega-nos muitas partidas, é uma grande verdade. bj

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